quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A triste história de Maikon e os lixões no Brasil

Por Agostinho Vieira*

Filho de um pedreiro e de uma dona de casa, Maikon Correa de Andrade, de 9 anos, era o quinto filho de uma das inúmeras famílias pobres que vivem na sexta maior economia do mundo. No último dia 28 de dezembro, com um amigo, ele recolhia latas e garrafas num lixão no bairro Dom Antonio Barbosa, em Campo Grande, MS, quando foi soterrado por uma montanha de lixo

O amigo escapou ileso. O corpo do menino só foi encontrado 24 horas depois, já em avançado estado de decomposição.

Maykon morreu exatamente um ano após o presidente Lula regulamentar a Políica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). De acordo com a nova lei, até agosto de 2014, logo depois da Copa do Mundo, todos os 2.800 lixões existentes no Brasil deverão estar fechados. Uma conquista para o páis muito mais importante do que o hexa no futebol.

Neste primeiro ano da PNRS foram criados grupos de trabalho, discutidos acordos setoriais, estabelecidas diretrizes, estratégias e metas. Pouco aconteceu fora dos gabinetes.

Em 2012, o governo deve anunciar novos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o fechamento dos lixões, o que precisaria ser acompanhado pelos estados. té o meio do ano, setores como o de óleos lubrificantes talvez lancem os primeiros projetosde logística reversa.

Enquanto isso, o delegado Jairo Carlos Mendes, da 5a DP, de Campo Grande, apura as causas da morte de Maykon. Começará ouvindo os pais. Quem será o responsável por essa tragédia? Os governos que levaram deécadas para aprovar uma lei que acabe com os famigerados lixões? Estado e prefeitura que não fizeram a sua parte? As empresas que não recolhem os seus resíduos? A população que não consegue separar o lixo seco do úmido?

Certamente não foi o Maykon. Para ele, aquilo era só uma brincadeira.

* Agostinho Vieira é jornalista de O Globo e mantém o blog Eco Verde (oglobo.globo.com/blogs/ecoverde)

Fonte: O Globo Economia

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