domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ipea avalia que Brasil pode avançar mais no investimento em medidas de combate a gases estufa



O Brasil pode obter mais recursos para financiar o desenvolvimento sustentável e investir em medidas de combate à emissão de gases de efeito estufa por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A avaliação consta de comunicado divulgado na quarta-feira (23/2) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Os mecanismos de desenvolvimento limpo são derivados do Protocolo de Quioto, que estabeleceu metas de redução de emissão de gases poluentes, como gás carbônico (CO2), para países desenvolvidos. Assim, o Brasil não precisou cumprir o protocolo, mas usou estratégias para vender aos países poluentes sua “cota de não poluição”, os chamados créditos de carbono.

Segundo a técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, responsável pelo estudo, Maria Bernadete Gutierrez, seguido pela China e a Índia, o Brasil é o país com mais projetos de desenvolvimento limpo – a maioria em geração de energia elétrica e suinocultura. Mas, para a especialista, um potencial enorme pode ser explorado no setor de tratamento de lixo e de saneamento básico, por exemplo.

“O Brasil tem uma política de gestão de resíduos muito fraca ainda. Pensávamos que a natureza teria condições de absorver nosso lixo, mas vemos que não”, afirmou. “Com os projetos de MDL, há uma maneira de, parcialmente, financiar o desenvolvimento sustentável em diferentes campos como geração de energia e combate às queimadas e não colocar tudo na conta do contribuinte”.

Por outro lado, Maria Bernadete lembra que os custos para o desenvolvimento dessa tecnologia são elevados e podem chegar a US$ 200 mil somente na fase de preparação do projeto. Como solução, ela propõe o consórcio entre municípios, parceria entre os níveis de governo e com a iniciativa privada.

Paralelamente, a técnica do Ipea defende a prorrogação do Protocolo de Quioto. Sem acordo internacional em favor do meio ambiente, por meio da redução da emissão de poluentes, os MDL e seus créditos de carbono perdem o valor e o países em desenvolvimento não terão os mesmo recursos para financiar o desenvolvimento sustentável. “Para o Brasil, seria uma perda importante”, acrescentou.

Como exemplo dos benefícios da política do MDL, a pesquisa da Gutierrez cita o Projeto Novagerar. Desenvolvido em Nova Iguaçu, na baixada fluminense, o projeto aproveita como fonte de energia limpa o gás gerado pelo lixo. Segundo a pesquisa, pelo menos 100 municípios poderiam copiar a ideia, o que geraria uma receita bruta de 2,7 bilhões de euros.


Fonte: Agência Brasil

Combate ao passivo de PCBs

Laboratório de Análises Químicas: preparo para o processo de acreditação dos ensaios


O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) ampliará este ano a capacitação laboratorial de seu Centro de Metrologia Química (CMQ). O objetivo é executar ensaios e testes que darão suporte ao projeto do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para elaborar um plano nacional de gerenciamento e eliminação de bifenilas policloradas (PCBs).

Essas substâncias são definidas como compostos organoclorados com 209 possibilidades de estruturas congêneres, das quais 130 tiveram uso comercial no passado.

As PCBs também são conhecidas como ascaréis e foram fabricadas no século 20, entre as décadas de 1920 e 1980, para conferir, principalmente, propriedades dielétricas a líquidos condutores, como os fluidos de transformadores.

Segundo o IPT, esses contaminantes são encontrados também em capacitores elétricos, bombas de vácuo, turbinas de transmissão a gás, fluidos hidráulicos, plastificantes para borrachas, pesticidas, papel carbono, entre outros sistemas e materiais.

O MMA representa o compromisso do país com a Convenção de Estocolmo, que está em vigor desde 2004 e prevê a eliminação dos passivos ambientais de poluentes orgânicos persistentes até 2025.

As PCBs estão entre as substâncias dessa categoria, que abriga também agrotóxicos, insumos da indústria química e resíduos industriais. Todos são nocivos à saúde humana e extremamente estáveis, podendo migrar de um meio para outro – como do solo para a água – com facilidade de permanecer no ambiente por muito tempo.

O IPT já conta com os padrões para a realização da implantação da metodologia analítica. “Depois, teremos de passar pelo processo de acreditação do Inmetro, que é uma exigência do MMA para aceitação do relatório do ensaio”, disse Helena Lima de Araújo Glória, do CMQ.

Para a implantação da metodologia analítica será utilizada a cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas para identificação dos vários congêneres das bifenilas e a cromatografia gasosa com detector de captura de elétrons para separação e quantificação desses compostos.

O detector de captura de elétrons é o mais seletivo para os organoclorados, sendo capaz de detectar teores em níveis de partes por bilhão (ppb).

Estima-se que a produção mundial de PCBs seja de 1,2 milhão de toneladas, sendo que 40% devem ter migrado para a natureza por meio de descartes indevidos, enquanto o restante ainda está em uso em equipamentos antigos.

Os problemas de saúde associados à intoxicação por PCB podem ocorrer no sistema reprodutivo, segundo estudos em cobaias feitos a partir dos anos 1960, quando houve maior conscientização dos efeitos nocivos dessa substância.

Nos seres humanos, os sintomas são problemas de circulação, complicações renais, câncer no fígado e vesícula biliar, hiperpigmentação, problemas oculares, entre outros.

Mais informações: http://www.ipt.br/




Ipea defende mais incentivos à preservação ambiental



A legislação ambiental do país deve prever não só a punição daqueles que degradam a natureza, mas também incentivar a preservação dela. Esta é a principal conclusão de um estudo sobre leis ambientais brasileiras divulgado na quinta-feira (24/2) pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea), na capital paulista.

O estudo faz parte da série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro e integra também uma pesquisa mais ampla sobre sustentabilidade ambiental no Brasil produzida pelo instituto. Na publicação, dedicada exclusivamente à análise da legislação ambiental do país, pesquisadores do Ipea trabalharam com especialistas de 50 outras instituições.

A advogada Patrícia Lemos Iglecias Lemos, professora da Universidade de São Paulo (USP) e doutora em direito ambiental, foi umas das coautoras do estudo. Em entrevista nesta quinta-feira, ela afirmou que o Brasil tem leis que já reconheceram que o acesso a uma natureza preservada é um direito fundamental, o que é positivo. Entretanto, a legislação nacional ainda não conta com mecanismos que efetivamente preservem esse bem comum.

O advogado Yuri Rugai Marinho, especialista em leis ambientais, disse que isso não acontece porque a legislação é focada em punir os que degradam o meio ambiente. Essas punições, entretanto, são de difícil aplicação devido à ineficiência de órgãos fiscalizadores e a questões jurídicas não levadas em conta na época da elaboração da lei.

Por isso, para Marinho e outros autores do estudo do Ipea, seria mais eficaz que as políticas públicas incentivassem a preservação. Assim, quem atualmente está derrubando árvores ilegalmente, por exemplo, pensaria também em quais as vantagens de preservar a mata, além de quais as punições ele está sujeito por cometer esta ilegalidade.

“A Lei de Crimes Ambientais [9.605/1998] tem um aspecto conservador”, disse Marinho, citando uma das leis ambientais mais punitivas em vigor hoje no país. “Ela não pode ser tão punitiva. Tem que ter um caráter incentivador também.”

Segundo ele, leis mais recentes, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, e a Lei da Mata Atlântica, de 2006, já preveem alguns estímulos à preservação. Leis desse tipo, porém, ainda são poucas e precisam ser ampliadas pelo país. “O trabalho dos legisladores tem sido feito com seriedade, mas ainda precisamos avançar”, complementou Patrícia Lemos.

Fonte: Agência Brasil

Frio, chuva e sol forte - a estranha combinação do tempo não impediu que parte da equipe brasileira do documentário Lixo Extraordinário participasse de uma série de eventos promocionais na sexta-feira, 25/02, em Los Angeles. "Só de estar aqui e de ter chamado atenção de tantas pessoas, já valeu a experiência", comentou o reciclador de lixo Tião dos Santos.


DivulgaçãoCena de 'Lixo Extraordinário'

Ele é o fio condutor do documentário, dirigido pela inglesa Lucy Walker e codirigido pelos brasileiros João Jardim e Karen Harley. Tião é um dos recicladores de lixo que participam de um trabalho do artista plástico Vik Muniz, uma sequência de fotos que utilizam material recolhido do aterro sanitário do Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro.

"É curioso como o filme é visto de forma diferente dentro e fora do Brasil", comentou João Jardim, que chegou nesta sexta-feira a Los Angeles. "Enquanto no nosso País as pessoas sentem pena de quem trabalha em um lixão, os estrangeiros se surpreendem que pessoas como o Tião conseguem manter a felicidade mesmo trabalhando com lixo."

Foi o que aconteceu durante uma reunião envolvendo empresários americanos, na noite de quinta-feira. Admiradores de documentários, eles se impressionaram com Lixo Extraordinário e buscaram uma série de detalhes sobre o trabalho de Tião dos Santos. "Foi algo tão emocionante que foi difícil conter um choro de emoção", disse o reciclador que, na sexta-feira, participou ainda de um coquetel no consulado brasileiro em Los Angeles.

Uma festa está programada se caso o filme receber o Oscar no domingo, 27. A cerimônia, aliás, será transmitida por um telão no Jardim Gramacho, onde deverão comparecer mais de 5 mil pessoas da região.

Fonte: o Estado de São Paulo

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Comitê de 16 ministérios impulsiona reciclagem


Foto: Jefferson Rudy/MMA



Os catadores de materiais recicláveis trouxeram o foco da questão ambiental das florestas para as cidades. Eles se tornaram essenciais para a redução dos lixões nas zonas urbanas e também são importantes para a redução da pobreza no país. Para integrar esses dois objetivos fundamentais, foi instalado na segunda-feira (14/2), em Brasília, o Comitê Interministerial de Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Recicláveis, que envolve 16 ministérios. A tarefa é articular as diversas áreas do governo federal para a promoção de políticas públicas favoráveis aos trabalhadores do setor.

"Vamos acordar, gente. Isso é real. Isso é verdade", exclamou Alexandro Cardoso, representante do movimento nacional de catadores, durante a cerimônia, em que esteve com as ministras do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, coordenadoras do grupo. Entusiasmado com a iniciativa, ele disse que os catadores vivem um momento novo, mas em uma trajetória que já tem história. "Estamos aqui criando o pacto que queríamos quando fizemos nosso primeiro encontro nacional, em 1998. Mas não imaginávamos a proporção que o movimento tomaria. E a gente também não sabia a importância do nosso papel na sociedade. Com as nossas mãos, conseguimos retorno para aquilo que cairia na natureza."

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, enfatizou que "o comitê alinha agendas ambientais, sociais e econômicas, que vão gerar renda, qualificação profissional e inclusão social". Ela disse que os catadores são verdadeiros ambientalistas, pois sem eles haveria mais lixo nas ruas, além de representarem grande potencial econômico. "O Brasil perde R$ 8 bilhões por ano por falta de reciclagem. Podemos conferir isso no levantamento feito pelo Ipea", citou, referindo-se ao relatório de Pesquisa sobre Pagamento de Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, no ano passado.

"Casar o social e ambiental, com o exemplo dos catadores de materiais recicláveis será uma inspiração para nós", completou a ministra Tereza Campello, enfatizando a tarefa nacional de erradicação da extrema pobreza até 2014, que é uma das metas da presidente Dilma Roussef.

Severino Lima Jr, que também é líder do movimento nacional e catador desde os 12 anos, no Rio Grande do Norte, diz que os trabalhadores que lidam com materiais recicláveis no Nordeste estão entre os mais vulneráveis do país. "Lá temos grande dificuldade com a comercialização dos produtos, pois os centros industriais estão no Sul e Sudeste. Temos ainda muitos atravessadores". Ele citou que a pobreza no Nordeste também é maior, e que isso se revela, por exemplo, no número idêntico de catadores no lixão de Recife, 2.500, em relação à quantidade de pessoas que sobrevivem de catação no lixão da Grande Rio. Sendo que a capital pernambucana tem 1,5 milhão de habitantes, e a capital carioca tem 6,3 milhões.

"Mas participamos de todas as audiências públicas realizadas para a formulação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e, com as leis que temos hoje, os catadores estão batendo na porta de seus prefeitos". Severino explica que um dos pontos conquistados pelos trabalhadores é a garantia de que façam parte da coleta determinada pela logística reversa. Isso significa que, de acordo com a nova lei, a indústria é responsável pela destinação dos produtos que gera, mesmo depois de eles serem descartados pelos consumidores. Severino ressalta que as organizações de catadores conseguiram assegurar que os municípios sejam dispensados de licitações quando contratam cooperativas de catadores para essa tarefa. "Não podemos depender somente do mercado de venda dos reciclados, pois esse mercado tem preços muito oscilantes", frisa.

O comitê interministerial foi instituído pelo Decreto 7.405, de 23 de dezembro de 2010, e será instrumento para a articulação das instituições de governo, da sociedade e do setor empresarial para execução de políticas públicas, além de ser referência para a criação de grupos semelhantes nos estados e municípios, que serão importantes para a formulação de planos municipais e regionais determinados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, fundamentais para a destinação de lixo nas cidades.

Membros do comitê - Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Saúde, Trabalho e Emprego, Ciência e Tecnologia, Cidades, Desenvolvimento Indústria e Comércio, Previdência Social, Turismo, Orçamento e Gestão, Minas e Energia, Fazenda, Secretaria Geral da Presidência, Secretaria de Direitos Humanos, Funasa, Ipea, BNDES, CEF, Banco do Brasil SA, Fundação Banco do Brasil, Fundação Parque Tecnológico Itaipu, Petrobras, Eletrobras, Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis



Indústria fluminense se interessa por trabalho de catadores de lixo

A iniciativa do encontro partiu da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan)por meio do seu Conselho Empresarial de Responsabilidade Social.

Agência Brasil
 
 

A ideia do encontro é estimular o investimento das empresas na cadeia de reciclagem em prol da sustentabilidade.

Rio de Janeiro. A Associação dos Catadores do Aterro do Jardim Gramacho recebeu a visita de empresários interessados em conhecer o processo de reciclagem realizado pelos catadores para as indústrias. A iniciativa do encontro partiu da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), por meio do seu Conselho Empresarial de Responsabilidade Social.

De acordo com a gerente do conselho, Cláudia Jeunon, a ideia é estimular o investimento das empresas na cadeia de reciclagem em prol da sustentabilidade. Ela informou que a Firjan está contribuindo para a regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada no fim do ano passado e que estabelece a responsabilidade das indústrias pelo gerenciamento dos seus resíduos sólidos e das etapas de coleta, transporte, tratamento e destinação final.

“Estamos trabalhando na regulamentação e achamos por bem trabalhar e ouvir o movimento dos catadores para que a gente trace os pontos em comum entre indústria e catadores. Os catadores serão muito importantes, em virtude da logística reversa proposta pela lei de resíduos”, disse Cláudia.

Outra preocupação é a redução de impostos na cadeia produtiva de reciclagem. “Não faz o menor sentido. Eles tiram o plástico, o vidro, a lata do lixo. Aí, eles vendem esse produto. Se for entre Estados, tem que pagar ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] de uma coisa que já foi paga. E eles fizeram um favor à sociedade de retirar [o material reutilizável] do lixo”.

No aterro do Jardim Gramacho, trabalham ainda quatro cooperativas. São 2.500 pessoas que atuam diretamente na coleta. No ano passado, a associação dos catadores formou 200 pessoas em um curso ministrado no próprio local.

Para o presidente da Associação, Tião Santos, é preciso dar condições aos catadores, que são responsáveis por 89% de todo o lixo reciclado atualmente. “Ainda hoje o Brasil recicla 1% da sua capacidade. Se, com a nova política, a meta é atingir 10%, vai ter uma demanda muito grande de materiais. E, para isso, as cooperativas precisam de infraestrutura, investimento em caminhões, maquinários, para escoar toda essa demanda. Os membros das cooperativas precisam entender muito mais de logística, planejamento, rota”, explicou Santos.



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Entrevista: a Administração no Brasil na visão de Stephen Kanitz

Militante. É assim mesmo que Kanitz costuma se definir. Para ele, a Administração, mais que uma profissão ou uma área de conhecimento, é uma causa

Por Simão Mairins, www.administradores.com.br

Reverenciado por um número imenso de brasileiros, Kanitz é um tanto atípico, para o que estamos acostumados a entender como administrador no Brasil. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, trouxe da experiência junto àquela que chama de "esquerda prática" dos Estados Unidos o pensamento que até hoje procura difundir aqui no hemisfério sul do continente: a Administração "socialmente responsável", onde o trabalhador tem mais espaço e o capitalista dono cede poder ao administrador profissional.

Em uma conversa franca e sem formalidades com a equipe da Revista Administradores, Kanitz falou tudo o que quis. Classificou como conservador o ensino em Administração no Brasil, revelou seu descontentamento com o ministério escolhido por Dilma e não poupou palavras contra os economistas, que, segundo ele, foram responsáveis pelo fim da sua coluna na revista Veja.

Administradores - Você disse uma vez, em um artigo, que os EUA são um país desenvolvido porque, diferentemente do Brasil, são geridos por administradores profissionais. Hoje, já temos inúmeras faculdades de Administração. Por outro lado, temos a consciência de que, apesar do alto número, muitos cursos deixam a desejar em qualidade. Será que nossa passagem para a era do administrador está seguindo o caminho certo?

Stephen Kanitz - Os EUA começaram essa fase em 1850. Então, nós estamos só 150 anos atrasados (risos)! Agora, lá e em todos os outros países, surgiu, na época, uma enorme antipatia dos intelectuais com relação às escolas de Administração. Nas escolas americanas, os intelectuais eram geralmente de esquerda e os administradores eram vistos como pessoas de direita. Até porque as primeiras escolas eram, realmente, para formar gerentes de empresas privadas familiares, que a gente conhece tão bem no Brasil. Em 1910, entretanto, surgiu nos EUA algo que não aconteceu em lugar nenhum do mundo. A esquerda mais prática - que é a de Harvard, onde eu estudei - percebeu que o administrador ia ser uma força política muito forte, e as empresas familiares iriam ser substituídas pelas de capital aberto e democrático, onde o administrador seria a peça chave, no lugar do capitalista dono. Então, Harvard muda esse negativismo, pensando assim: "vamos pegar esses administradores do nosso lado, e não do lado dos capitalistas. Vamos criar, então, o curso socialmente responsável". No Brasil, a animosidade dos intelectuais contra os administradores é visível até hoje. Você veja, a Universidade de São Paulo expulsou o MBA de lá. E isso é até assustador, porque 10% do ICMS do estado de São Paulo vai para as universidades públicas estaduais. Ou seja, nós temos os professores que, apesar de receberem 10% do imposto que é arrecadado pelas empresas, são contra o ensino de Administração.

No início do ano, fizemos uma enquete em nosso site onde perguntamos se "administrar é apenas para profissionais devidamente formados em Administração", e a maioria respondeu que "não, pois qualquer pessoa pode desenvolver as habilidades e competências necessárias para administrar, independente da área de formação". Você acha que isso reflete o descontentamento da classe com a qualidade dos cursos?

Nós não temos administradores (ensinando). Eu estudei lá na USP com engenheiros de produção, que tinham, claro, visão de engenheiros. É complicado. Nós não temos, ainda, o Peter Drucker do Brasil. Aliás, não temos uma coluna. O Drucker, há 60 anos, tinha uma coluna semanal nas grandes revistas. Aqui, eu tinha uma coluna mensal na Veja, mas acabou. Tem um que escreve para a Carta Capital e tem o Max Gehringer, mas ele fala sobre recursos humanos, como arranjar um emprego, essas coisas, não é sobre administração estratégica.

De que modo, então, podemos chegar a um patamar ideal?

Nós vamos precisar depurar algumas faculdades que estão fazendo caça-níquel. A própria palavra MBA já foi tomada. Tem escola de Economia fazendo curso de MBA. Tem faculdade oferecendo MBA em Direito. Aí complica mesmo, porque a população acha que qualquer um pode ser administrador. Isso o Conselho Federal de Administração tinha que processar. Você não poder roubar o nome de Mestrado em Administração de Negócios para usar em outros cursos.
"Nós administradores temos a missão de realizar o sonho dos outros", afirma
Kanitz / (Foto: arquivo pessoal/montagem Revista Administradores)


Como deve ser pensada a Administração do Brasil - tanto a pública quanto a das empresas – de modo que possamos gerir de forma eficiente esse futuro promissor que tanto se fala em nosso país?


Nós não criamos, ainda, no Brasil, as escolas de Administração socialmente responsáveis. Isso começou em 1910 na Harvard Business School e, em 1970, quando eu estudei lá, fiquei muito surpreso, porque tinha um sabor de esquerda que a gente não via no Brasil. As nossas escolas de Administração são muito de direita. Além do mais, nós não temos nas universidades públicas do Brasil, pasmem, faculdades de Administração. Normalmente, é um departamento dentro de uma escola de Economia, Administração e Contabilidade. Enfim, nós estamos muito atrasados. Inclusive, eu já desisti de achar que nós vamos ter em breve a era do administrador. Em 2010, eu até torci e lutei para que o Henrique Meirelles fosse candidato (a presidente) - e ele queria isso, eu sei, até o ajudei bastante - mas ele não foi. Inclusive, o último artigo que eu escrevi na Veja foi "O administrador de esquerda", no intuito de fazer a cabeça da nossa extrema esquerda de que o administrador não é só o de direita, existe também o de esquerda. Não de extrema esquerda, porque nós conseguimos implantar as nossas ideias sem sermos revolucionários. A gente vai implantando devergarzinho, pouco a pouco.

Você se considera, então, um administrador de esquerda?

É, eu nem sabia disso, mas Harvard me ensinou a ser preocupado com o trabalhador, o fornecedor, o cliente. Há 15 anos eu criei o primeiro site de voluntariado do Brasil, o primeiro site de filantropia e o Prêmio Bem Eficente, para dar visibilidade às entidades que tivessem boas práticas. E aí os jornalistas perguntavam por que eu estava fazendo aquilo. Eles diziam: "você é homem". E aí, quando eu perguntava o que tinha a ver, eles diziam que o social era coisa de mulher, porque no Brasil há esse costume de as primeiras damas cuidarem desse tipo de ação e os homens se preocuparem com a taxa de juros, a taxa de câmbio, essas coisas. Eu não me considero de esquerda no sentido de ser a favor da estatização, por exemplo, algo que, obviamente, é ineficiente. Eu também sou contra o fato de termos um economista mandando em dezenas de estatais como a gente vê no Brasil. Eu acredito na descentralização. Eu sou a favor da empresa socialmente democrática, onde o trabalhador pode comprar as ações da empresa onde ele trabalha. Aqui é negado isso. Quem trabalha nos Correios, por exemplo, não pode comprar ações de lá.

Você acha que há características que são necessárias de modo específico aos administradores brasileiros?

A minha grande bandeira é que você tem de criar um estilo de administração próprio do país onde você está. Eu vejo a HSM trazendo, ano após ano, gurus americanos, como se não existissem gurus de administração no Brasil. Nomes como Peter Drucker, (Gary) Hamel e outros já vieram ao Brasil e ficaram todos falando um monte de bobagens, sem entender nada do país, e a gente acreditando. Isso é assustador! Há 15 anos, no meu livro "Brasil que dá certo", eu deixei bem claro que o futuro seriam os produtos populares, mercados de baixa renda, coisa para pobre. E todos os livros de administração diziam que não, tem que fazer inovação, produtos com alta tecnologia. E eu falei que não. Como você quer inovar, quando 90% dos seus clientes nunca compraram o seu produto? A Wolkswagen é um exemplo disso. Foram 40 anos com o fusca, e nunca mudava.

Qual a diferença que você enxerga entre o administrador e os profissionais de outras áreas que ocupam cargos de gestão?

Olha, o administrador tem a função de ser sistêmico. A função primordial é não permitir que os problemas se acumulem. Nós estamos lá para encher a paciência de todo mundo e analisar os problemas corretamente. Qual o grande problema do Brasil? Nós deixamos os nossos problemas se acumularem. Tomar decisões é outro ponto. Muitas vezes, acha-se que é melhor tomar uma decisão errada do que demorar para tomar. Só que, se você tomar uma decisão errada, logo, logo você vai descobrir que errou. Eu fiquei muito triste por nenhum administrador ter sido escolhido para a equipe de Dilma. O Henrique Meirelles, que é um exímio administrador, fez uma coisa extraordinária pelo Brasil, que foi criar reservas. Mesmo assim, a esquerda mais radical vetou a continuação dele, considerando-o um administrador de direita, ligado a bancos. Lembre-se de que a esquerda soviética liquidou - matou, mesmo - todo o segundo escalão administrativo da Rússia. Destruíram os controles gerenciais e criaram a autogestão dos trabalhadores, como se eles pudessem autogerir-se, algo que é muito comum ainda entre a esquerda, mas que, na verdade, não é bem assim. Você tem que ter o administrador que pense sistemicamente, que se preocupe com tudo.

No Brasil, em vez de nos basearmos em Harvard, preferimos o lado soviético: a gente não gosta do administrador. Nós somos 2 milhões, mas quem manda nesse país são 30 mil economistas, que são muito influentes, têm colunas em todos os jornais, escrevem o tempo todo. Inclusive, me derrubaram da Veja, porque eu falava mal deles e elogiava o administrador de esquerda, que era Meirelles.

Vocês administradores têm que tomar uma rédea política e perceber que são importantes. Eu já estou velho. Mas vocês, que ainda são jovens, têm a missão de mostrar para a esquerda brasileira que nós não somos esse bicho de sete cabeças e seremos um excelente aliado.

Você acredita que os problemas brasileiros decorrem da forma como nós vemos o administrador e o empreendedor por aqui?

Nós temos uma tradição muito pequena de administradores. Em 94 tínhamos 300 escolas de Administração, mas nós não temos poder político, não temos o reconhecimento que deveríamos ter. A sociedade está dando um tiro no pé ao valorizar mais o economista do que o administrador. Outra coisa é que aqui estamos muito acostumados a dizer que precisamos incentivar os empreendedores. Mas nós precisamos entender que o empresário e o empreendedor estão preocupados em realizar seus próprios sonhos. Nós administradores temos a missão de realizar o sonho dos outros. Tá lá o Eike Batista, porque ele brilhante e tal, porque realiza todos os sonhos dele. E os sonhos da sociedade?







Agenda 21 de Tanguá prioriza capacitação de professores da rede municipal

Além da capacitação dos educadores, prevista para fevereiro, Agenda prevê plantio de mudas nativas de mata atlântica no Bosque da Juventude por estudantes e líderes comunitários

A capacitação dos professores da rede municipal nas áreas de desenvolvimento econômico, igualdade social e preservação ambiental é uma das principais ações da Agenda 21 de Tanguá, lançada nesta segunda-feira (21/02), no Rio de Janeiro. O município, assim como as demais cidades do entorno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), integra a iniciativa de responsabilidade socioambiental da Petrobras, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro. A Agenda colabora para estruturar modelos sustentáveis de desenvolvimento nas localidades envolvidas.

"A capacitação para os educadores está prevista para fevereiro. Já o plantio de mudas nativas de mata atlântica no Bosque da Juventude por estudantes e líderes comunitários, outra ação de extrema relevância para a população, começa em abril", antecipa o pastor José Barreto, coordenador do Fórum da Agenda 21 de Tanguá.

As ações concretas previstas pela Agenda devem ser empreendidas pela sociedade civil e pelos governos locais, regionais e federal. O plano é elaborado mediante a mobilização de todos os setores da sociedade em torno de um diagnóstico do município e de um planejamento do futuro com foco no desenvolvimento sustentável.

"O real significado da Agenda 21 é a participação da população no contexto social e político. Um verdadeiro exercício de cidadania", reforça Ricardo Frosini, representante da Petrobras e coordenador da implantação de Agendas 21 Locais. O projeto participativo engloba 16 áreas, como cultura, educação, habitação, meio ambiente, saneamento, saúde, segurança e transporte.

"A busca do desenvolvimento econômico de Tanguá é uma das bases da Agenda 21 do município, mas nosso esforço só valerá a pena se nossas ações estiverem lado a lado com a justiça social e com o equilíbrio ambiental", diz o prefeito Carlos Pereira. No evento, o prefeito de Tanguá completou que a Agenda Tanguá é o primeiro passo para um plano estratégico abrangendo todos os municípios do Comperj.

O coordenador do Programa Estadual da Agenda 21 da Secretaria do Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Frederico Castelo Branco, compareceu ao evento em Tanguá e destacou que a Agenda 21 fortalece a democracia participativa, indo além da democracia representativa, que é usualmente praticada no país.

Até junho deste ano, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Maricá, Niterói, Nova Friburgo, Rio Bonito, São Gonçalo, Saquarema e Silva Jardim terão suas Agendas 21 Locais lançadas. O lançamento da primeira Agenda, a de Teresópolis, ocorreu em dezembro do ano passado.



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Casimiro de Abreu recebe Agenda 21 como município do entorno do Comperj

Até junho deste ano, outros 12 municípios do entorno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro terão suas Agendas 21 Locais.

Depois de Teresópolis, foi a vez de Casimiro de Abreu receber, nesta terça-feira (15/02), a Agenda 21 dos municípios do entorno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A iniciativa de responsabilidade socioambiental da Petrobras, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, colabora para estruturar modelos sustentáveis de desenvolvimento nas localidades envolvidas e esclarece o papel de cada setor social no processo.

”O real significado da Agenda 21 é a participação da sociedade no contexto social e político. Um verdadeiro exercício de cidadania. Já o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável serve como norteador dos esforços de todos em prol do desenvolvimento do município”, diz Ricardo Frosini, representante da Petrobras e coordenador do projeto de implantação de Agendas 21 Locais na região.

A Agenda 21 é um plano de ação participativo, elaborado mediante a mobilização de todos os setores da sociedade em torno de um diagnóstico do município e de um planejamento do futuro com foco no desenvolvimento sustentável. O projeto abrange áreas como meio ambiente, saneamento, habitação, transporte, segurança, educação, saúde e cultura. As ações concretas previstas pela Agenda devem ser empreendidas pela sociedade civil e pelos governos em escalas global, nacional e local.

“Vamos trabalhar juntos, unindo forças com a população, que é peça-chave no processo de planejamento. Vamos nos empenhar ao máximo para colocar em prática as ações da Agenda. Cada área contemplada será estudada de modo a definir estratégias específicas que atendam os anseios da população”, garante Antonio Marcos, prefeito de Casimiro.

Até junho deste ano, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Maricá, Niterói, Nova Friburgo, Rio Bonito, São Gonçalo, Saquarema, Silva Jardim e Tanguá terão suas Agendas 21 Locais lançadas. O lançamento da primeira Agenda, em Teresópolis, foi realizado em dezembro do ano passado.



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Pelo 2º ano consecutivo, Petrobras está entre as 100 empresas mais sustentáveis do mundo

Companhia subiu 12 posições em relação ao ranking do ano passado, e ficou em 88º lugar. Ranking Global 100 analisou 3.500 companhias de 24 países e de todos os setores da economia.



A Petrobras aparece pelo segundo ano consecutivo entre as 100 empresas mais sustentáveis do mundo, segundo a 7ª edição do ranking Global 100, elaborado pela revista Corporate Knights, publicação canadense especializada em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. O ranking foi elaborado com base em uma pesquisa realizada pelas empresas Legg Mason’s Global Currents Investment Management e Phoenix Global Advisors LLC. Foram analisadas 3.500 companhias de 24 países e de todos os setores da economia.

Foram considerados dez indicadores ambientais, sociais e de governança, como uso de energia, destinação de resíduos, emissões de CO2 e transparência, entre outros. A Petrobras subiu 12 posições em relação ao ranking do ano passado, e ficou em 88º lugar, figurando mais uma vez entre as três empresas brasileiras da lista, junto com Natura (66ª) e Bradesco (91ª).



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O ciclo do carbono

O carbono está presente nos compostos orgânicos (aqueles presentes ou formados pelos organismos vivos) e nos inorgânicos, como grafite e diamante. C combina-se e é química e biologicamente ligado aos ciclos do O e H para formar os compostos da vida. CO2 é o composto orgânico de C mais abundante na atmosfera, mas compostos orgânicos como CH4 ocorrem em menor quantidade. Parte do ciclo do C é inorgânica, e, os compostos não dependem das atividades biológicas. O CO2 é solúvel em água, sendo trocado entre a atmosfera e a hidrosfera por processo de difusão. Na ausência de outras fontes, a difusão de CO2 continua em um outro sentido até o estabelecimento de um equilíbrio entre a quantidade de CO2 na atmosfera acima da água e a quantidade de CO2 na água. Co2 entra nos ciclos biológicos por meio da fotossíntese, e, a síntese de compostos orgânicos constituídos de C, H, O, a partir de CO2 e água, e energia proveniente da luz.

Abaixo segue um texto elaborado por Claudia Rocha Martins, Pedro Afonso de Paula Pereira, Wilson Araújo Lopes e Jailson B. de Andrade e publicado na revista Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n° 5, em novembro de 2003:

A importância do carbono e de seus compostos é indiscutível. Este é onipresente na natureza e seus compostos (e.g. proteínas, carboidratos e gorduras) são constituintes essenciais de toda a matéria viva, e fundamentais na respiração, fotossíntese e regulação do clima. Existe uma grande variedade de compostos de carbono envolvidos no seu ciclo global, dos quais serão abordados os principais compostos presentes na atmosfera: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), hidrocarbonetos não metânicos (HCNM) e monóxido de carbono (CO).

Figura 2: Ciclo global do carbono



Os reservatórios de CO2 na atmosfera, litosfera e oceanos são extremamente grandes. Os fluxos entre estes compartimentos são bidirecionais e quase em balanço, o que faz com que as estimativas de troca sejam difíceis.

A Figura 2 ilustra as principais rotas de troca estabelecidas para o CO2, em processos biogeoquímicos envolvendo os três compartimentos, enquanto a Figura 3 ilustra estimativas de quantidades aproximadas contidas em cada ambiente e os fluxos anuais (GtC/ ano) entre os mesmos.

Figura 3: Fluxos e quantidades de Dióxido de Carbono nos compartimentos

Figura 3: Fluxos e quantidades de Dióxido de Carbono nos compartimentos
As trocas de CO2 entre a atmosfera e a biosfera terrestre ocorrem principalmente através da fotossíntese e a respiração por plantas. Estes dois processos podem ser resumidos pelas seguintes equações:

Fotossíntese:

H2O + CO2 + hν → (CH2O)n + O2 (1)

Respiração:

(CH2O)n + O2 → CO2 + H2O + Energia (2)

Dessa maneira, parte do CO2 fixado segundo a equação 1, é reemitido segundo a equação 2. O restante será armazenado, na forma de biomassa, pelas folhas, caules, raízes, etc, no que é chamado de Produção Primária Líquida (PPL). Essa biomassa, ao ser consumida, como alimento, por organismos heterotróficos, é parcialmente reconvertida de forma imediata a CO2 pela respiração e, posteriormente, por processos de decomposição da matéria orgânica, através da morte de animais e plantas e ataque por microrganismos. No decorrer de um tempo suficientemente longo, a respiração e a decomposição dos organismos heterotróficos tende a balancear a PPL.

A fixação do CO2 pelos oceanos se dá através da dissolução do gás na água e por fotossíntese. A dissolução do CO2 pode ser expressa pelas seguintes equações:

CO2(g) ⇌ CO2(aq) (3)

H = 3,4 x 10-2 mol L-1 atm-1

CO2(aq) + H2O(l) ⇌ H2CO3 (aq) (4)

K = 2,0 x 10-3

H2CO3(aq) + H2O(l) ⇌ H3O+(aq) + HCO3-(aq) (5)

K = 4,3 x 10-7 mol L-1

HCO3-(aq) + H2O(l) ⇌ H3O+(aq) + CO32- (aq) (6)

K = 4,7 x 10-11 mol L-1

A espécie predominante irá depender do pH da água e das respectivas constantes de equilíbrio das reações. De modo aproximado, a 15 0C e valores de pH abaixo de 5,0, prevalece o CO2(aq), enquanto para pH acima de 10,5 prevalece o CO32-(aq). Para pH próximos a 8,0 praticamente só existe o íon HCO3-. No caso de oceanos, em que o pH da água está próximo a 8,0, a espécie solúvel predominante será, portanto, o íon bicarbonato, HCO3-.

A principal rota de transferência do CO2 para o fundo dos oceanos é pela sedimentação de carbonato de cálcio insolúvel, CaCO3, na forma de organismos formadores de exoesqueletos, como conchas, moluscos, etc. Sua decomposição ao longo de milhões de anos leva à formação de depósitos ricos em hidrocarbonetos (e.g. petróleo) e carvão. Outra parte é re-dissolvida por processos químicos e biológicos, permanecendo como fração solúvel.

O CO2 é também fixado na forma de carbono orgânico, pela fotossíntese de algas na superfície ensolarada das águas e pelo crescimento resultante do fitoplancton. Esse CO2 retorna à atmosfera através da respiração e decomposição da biomassa assim formada.

O balanço de massa no fluxo de CO2 entre a atmosfera e o oceano é resultado de um desequilíbrio nas concentrações desse gás entre os dois compartimentos, de acordo com a localização. Assim, em regiões próximas ao equador, as águas quentes favorecem uma transferência maior do oceano para a atmosfera, enquanto em médias e altas latitudes predomina o processo inverso, em que CO2 da atmosfera é dissolvido nas águas frias. Alguns modelos globais sugerem que há uma transferência líquida de CO2 da atmosfera para os oceanos na faixa de 2,0 ± 0,8 GtC/ano.

De acordo com medições efetuadas em camadas de gelo na Antártica, a quantidade de CO2 no ar, nos últimos 200.000 anos, variou entre 200 e 280 g/t, denotando uma grande estabilidade nos processos de formação e remoção e, assim, mantendo-se até o século 19, no limiar da revolução industrial. Nos últimos 130 anos, contudo, sua concentração aumentou dos originais 280 g/t a cerca de 360 g/t em meados da década de 1990, num aumento de quase 30%. Atualmente, esse aumento é de cerca de 0,5% anuais, o qual, caso mantido, dobrará a quantidade no tempo aproximado de um século e meio. Esse acréscimo é atribuído, principalmente, à queima de combustíveis fósseis e, em certo grau, aos processos de desflorestamento e queimadas. É interessante notar que a emissão total de carbono decorrente dessas atividades vem crescendo a taxas de 4,3% ao ano desde a revolução industrial, portanto cerca de oito vezes maiores do que as taxas de crescimento da concentração de CO2. Caso todo o CO2 emitido por estes processos permanecesse na atmosfera, seria esperada uma quantidade bem maior do que a atual. Existem, portanto, importantes mecanismos de remoção dessa produção excedente, sendo os oceanos um deles, através da absorção, enquanto a retirada de CO2 através de processos de replantio seria outro. Não obstante, é importante frisar que cerca de 3,3 GtC, líquidas, como CO2, estão sendo introduzidos na atmosfera do planeta a cada ano, com conseqüências globais sobre o clima, as quais vem sendo amplamente discutidas em diversos foros.

Revista Banas Qualidade

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Consciência Ambiental

Pesquisas realizadas recentemente afirmam que os brasileiros estão cada vez mais conscientes e preocupados com a questão ambiental. Assim, estão dispostos a colaborar e valorizar empresas que também se engajem nesta causa.

Segundo pesquisa realizada pela TNS Interscience, para os consumidores uma empresa que os respeita deve ter a responsabilidade social como um de seus valores.
















A pesquisa HSBC Climate Index 2007 destaca que os brasileiros são mais preocupados, comprometidos e otimistas com relação às mudanças climáticas que a média global.







De acordo com a pesquisa, as mudanças climáticas estão entre as maiores preocupações dos brasileiros hoje. Nossos cidadãos acreditam estar fazendo esforços pessoais para mudar seu estilo de vida em função destas mudanças e, assim como a maior parte da população mundial, estão preparados para estas mudanças. Já menos que 15% dos brasileiros acreditam que as empresas responsáveis pelas mudanças climáticas estejam fazendo o que é necessário para mudar este cenário.





Resultados divulgados pelo IBOPE em 2007 deixam clara esta preocupação dos brasileiros com o aquecimento global e mostra que 68% acreditam que esta seja uma prioridade de todos e imediata. A pesquisa da Edelman Trust Barometer 2007 reforça que para 74% dos latino-americanos esta também deveria ser a maior preocupação das empresas.







O estudo Future Shaper Brasileiros, realizado pela TNS Interscience recentemente, estima que no futuro os brasileiros estarão cada vez mais preocupados e engajados com a questão ambiental, valorizando empresas e produtos que não agridam o meio ambiente e que também contribuam para a comunidade.


Sustentabilidade - Da Teoria à Prática

Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.



 
Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

Nos últimos anos, práticas de responsabilidade social corporativa tornaram-se parte da estratégia de um número crescente de empresas, cientes da necessária relação entre retorno econômico, ações sociais e conservação da natureza e, portanto, do claro vínculo que une a própria prosperidade com o estado da saúde ambiental e o bem-estar coletivo da sociedade.

É cada vez mais importante que as empresas tenham consciência de que são parte integrante do mundo e não consumidoras do mundo. O reconhecimento de que os recursos naturais são finitos e de que nós dependemos destes para a sobrevivência humana, para a conservação da diversidade biológica e para o próprio crescimento econômico é fundamental para o desenvolvimento sustentável, o qual sugere a utilização dos recursos naturais com qualidade e não em quantidade.





segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A Política Nacional de Resíduos Sólidos e os acordos setoriais



A Política Nacional de Resíduos Sólidos deve ser mais um elemento positivo na criação de novos postos de trabalho. Se para as empresas especializadas em gestão de resíduos no país surgirá uma excelente oportunidade de expandir seus negócios, muitas dúvidas acerca da forma de gerenciamento dos resíduos sólidos ainda têm preocupado o meio empresarial.

O Decreto 7.404, publicado em dezembro último para regulamentar a lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos deixou indefinidos alguns pontos importantes para o empreendimento que precisa montar seu plano de gerenciamento de resíduos sólidos de acordo com suas atividades para não acumular multas. Em vez de estabelecer metas e responsabilidades para as empresas, acabou por delegar a efetiva implantação da Política Nacional a novos decretos, acordos setoriais e termos de compromissos.

Para as empresas interessadas em iniciar os trabalhos para realização dos acordos setoriais, o advogado empresarial José Daniel Lins Melo, da Crivelli Advogados, recomenda cautela enquanto não se tem toda a cadeia legislativa concluída. Para ele, “é temerosa a alocação de recursos que poderão ser comprometidos, caso venha surgir alguma norma que contenha disposições contrárias ao que restar estabelecido e que podem afetar a sustentabilidade do empreendimento”.

Segundo o especialista, os termos de compromissos podem ser uma alternativa aos acordos setoriais, “desde que contenham cláusula expressa de revogação do compromisso na hipótese de advir norma que obstaculize o cumprimento das metas”.

A formatação dos acordos setoriais será definida pelo Comitê Orientador, criado pelo mesmo decreto para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa e que também tem a missão de promover estudos e medidas de desoneração tributária das cadeias produtivas que serão afetadas pela obrigatoriedade da logística reversa, simplificando os procedimentos para cumprimento das obrigações dela decorrentes.

Enquanto isso, estados e municípios têm até agosto de 2012 para elaborar seus próprios planos de reaproveitamento, tratamento e eliminação do lixo orgânico e inorgânico, sob pena de não poderem utilizar os recursos federais do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento 2 para o tratamento de resíduos.

Com tantos atores e dúvidas, o momento é de cautela para Melo, para quem está por vir uma complexa legislação com diretrizes, princípios e metas que formarão todo o conteúdo normativo. Até lá, “os termos de compromisso podem ser uma boa alternativa para as empresa que querem se antecipar a lei’, orienta o advogado.

Vértice Comunicação

Banco Mundial apoia projeto para catadores de lixo no Brasil

Iniciativa de inclusão social conta ainda com financiamento do governo do Japão e da Caixa Econômica Federal.



Caixa Econômica Federal, o Governo do Japão e o Banco Mundial anunciaram uma parceria para promover inclusão social a cerca de 5 mil catadores de lixo no Brasil.

O financiamento, a fundo perdido, firmado na sexta-feira, é de US$ 2,7 milhões, equivalentes a cerca de R$ 5 milhões.

Condições Precárias

O projeto começará nos aterros sanitários de Jardim Gramacho e Itaoca, no Rio de Janeiro. Logo depois, viajará por outras partes do país atendendo a 5 mil pessoas na primeira fase.

O diretor do Banco Mundial no Brasil, Makhtar Diop, disse que a iniciativa ajudará a melhorar as condições precárias de trabalho dos catadores.

O projeto prevê melhorias nas áreas de saúde e segurança, aumento da produtividade e de renda e investimentos.

Pela iniciativa, devem se fechados até 2015, cerca de seis lixões para dar lugar a aterros sanitários modernos e ambientalmente sustentáveis.

Mais da metadade das cidades brasileiras tem populações de catadores de lixo.

Fonte: Correio do Brasil



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Lixo e esgoto também são desafios ambientais, diz Izabella Teixeira

Acompanhem entrevista da brilhante ministra Izabella Teixeira ao Valor:


A bióloga Izabella Teixeira, 49 anos, fala rápido e lança questões dentro das próprias afirmações. Especialista em avaliação ambiental estratégica, a ministra do Meio Ambiente repete várias vezes a expressão “ampliar o debate” ou “construir a agenda”, traindo a base técnica de quem tem doutorado em planejamento ambiental. Talvez por isso, e por lembrar que 80% da população brasileira vive em zona urbana, Izabella mire as cidades em sua gestão. “Lixo e esgoto são dois dos principais problemas ambientais deste país”, diz, ao lembrar também que é preciso dar novo desenho à dinâmica de mobilidade das cidades brasileiras. Fala, emocionada, da invisibilidade dos catadores de lixo em um País campeão de reciclagem, mas que não os enxerga nem reconhece nas políticas públicas. “Eles, os catadores, são verdadeiros ecologistas de plantão.”

Nascida em Brasília e funcionária de carreira do Ibama há 26 anos, Izabella fala em consenso e convergência. É assim que enxerga as políticas de clima e de biodiversidade, de recuperação de áreas degradadas a partir de estudos de viabilidade econômica, das políticas ambientais em harmonia com as de desenvolvimento. “Caso contrário”, vaticina, “cada um vai para um lado.”

Braço-direito do então ministro Carlos Minc, assumiu a pasta em abril de 2010, quando ele deixou o MMA para lançar a campanha a deputado estadual no Rio de Janeiro, e foi confirmada no cargo pela presidente Dilma Rousseff. Sem o espírito midiático do antecessor e muito diferente da personalidade inspiradora de Marina Silva, a nova ministra fala em diálogo: “O Ministério do Meio Ambiente tem que ser um ministério facilitador, que formule políticas com outros parceiros. Nós não fazemos nada sozinhos”, explica em frase-síntese da marca que quer imprimir à sua gestão.

Ela parece também querer dar ares internacionais ao ministério, acompanhando a estatura que o país começa a assumir. Diz que o Brasil tem que liderar a pauta de florestas no mundo e que, aqui dentro, há que se pensar no aumento das áreas protegidas no mar. Enxerga os outros países amazônicos como parceiros e pretende trabalhar projetos em comum. Passou o último dia de 2010 reunida com uma delegação chinesa, falando sobre planejamento estratégico dos recursos hídricos. Tem na mesa um projeto que lhe é particularmente caro e está discutindo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário – dar destino nobre ao enorme volume de madeira ilegal apreendida na fiscalização do desmatamento. Ela pretende articular um programa de construção de casas aos povos da floresta, que não vivem em habitações de alvenaria. “A partir do crime ambiental a gente traz cidadania ambiental”, imagina. A seguir, trechos da entrevista que ela concedeu ao Valor:

Valor: Quais são as suas prioridades neste início de gestão?

Izabella Teixeira: Na agenda ambiental é meio complicado dizer onde priorizar. Melhor pensar o que é estratégico.

Valor: Qual será a sua marca no ministério?

Izabella: Quero mencionar quatro ou cinco coisas que serão importantes na gestão. O Brasil tem uma importância estratégica no cenário internacional nas questões ambientais. É um líder e tem que assumir essa liderança não só no setor público como no privado. Temos que atuar entendendo quais as implicações dos grandes debates econômicos e sociais do planeta nas questões ambientais. E não ficar restritos aos fóruns tipo conferências, mas participar de reuniões que sejam importantes.

Valor: Por exemplo…?

Izabella: Se há uma discussão relevante em fóruns econômicos, ou em relações bilaterais, com a Alemanha, Portugal, China, é fundamental que o ministério participe com uma agenda sólida de debate e interlocução.

Valor: No dia 31 de dezembro, a senhora se reuniu com uma delegação chinesa. Qual a pauta?

Izabella: O chefe da delegação era o ministro dos Recursos Hídricos da China e nós fechamos um entendimento de cooperação em recursos hídricos. Aliás, temos muito interesse na cooperação ambiental com a China.

Valor: O que isto significa?

Izabella: Cooperar na experiência de gestão estratégica e de riscos no planejamento de recursos hídricos, e no uso desses recursos, em particular para a geração de energia. Nós fizemos o plano estratégico do Araguaia-Tocantins, por exemplo, em que se prevê a conciliação do uso múltiplo das águas com a agenda do desenvolvimento. Os chineses têm interesse nisto.

Valor: Eles têm interesse no jeito em que a gente faz esses estudos?

Izabella: Na maneira em que a gente faz, na formação e qualificação de quadros, na troca de experiências e de tecnologias.

Valor: E como é que vocês fazem? Olham a bacia hidrográfica e estudam seu uso?

Izabella: A Agência Nacional de Águas faz os planos estratégicos das bacias hidrográficas do país. Estamos discutindo agora, por exemplo, a margem direita do Amazonas. Planejamos, em função dos vários usos, sugerimos os limites e damos diretrizes de como aquilo pode ser usado. Já estão ali as usinas hidrelétricas desenhadas e as futuras. No caso do Araguaia-Tocantins, a reflexão que fizemos em relação à importância da biodiversidade local, do turismo, do abastecimento, do uso para irrigação e para a pecuária levou o presidente Lula a decidir excluir o Médio Araguaia de qualquer aproveitamento hídrico com relação à geração de energia.

Valor: E é nesse tipo de coisas que os chineses estão interessados?

Izabella: Estão interessados no uso de instrumentos como esse para tomada de decisão. Também estão interessados no nosso monitoramento de vulnerabilidade a enchentes.

Valor: A senhora tem dito que tem uma agenda imensa de trabalho. Por onde começar?

Izabella: Na pauta da biodiversidade, temos um desafio monumental de trabalho para os próximos dois anos, no pós-Nagoya, com vistas à CoP-11, na Índia, onde vamos discutir os recursos financeiros necessários. Até lá pretendemos ter consolidado nossas áreas protegidas, mas também pensado na sua expansão, especialmente nos ecossistemas marinhos e costeiros, onde está nossa maior deficiência. As metas de Nagoya recomendam que se tenha 17% de áreas protegidas nos ecossistemas terrestres e 10% nos marinhos. No mar nós só temos 1,5%.

Valor: Temos que discutir onde fazer estes parques?

Izabella: Onde, como, se são só parques, se podemos conciliar usos, como potencializar recursos. Vamos ter que discutir com toda a sociedade. Aí tem a convergência de biodiversidade com a agenda de clima. Temos que pensar onde podemos estar mais vulneráveis, onde está o risco. Sem falar nas florestas, que é um tema absolutamente estratégico para o Brasil. Somos o país com a maior extensão de florestas do planeta e temos que ter liderança nessa agenda. Precisamos pensar não só na conservação, mas na recuperação de áreas degradadas com uso econômico de maneira sustentável. Temos que pensar quais as áreas degradadas deste país e qual a economia que podemos associar a elas.

Valor: Qual é esta área, quanto temos de áreas degradadas?

Izabella: Esse número é um mistério. Já ouvi desde 20 milhões a 60 milhões de hectares. Cada um diz uma coisa porque cada um tem um conceito sobre o que é área degradada. Aqui temos que ter a visão da expansão da infraestrutura no Brasil para pensar em custos e competitividade. Podemos ter área degradada onde não se consegue implantar nada porque não se consegue transportar.

Valor: Está longe de tudo?

Izabella: Porque ali as estradas deixaram de existir ou transportar por estradas não é a melhor via. Qual é o modelo? São vários, não há um único. Mas é claro que em um país com esta extensão e que, no cenário mais conservador, tem 20 milhões de hectares de áreas degradadas, não tem sentido desmatar e perder biodiversidade. Se tivermos uma reflexão de natureza estratégica e econômica, poderíamos construir ali, a médio prazo, situações que chamamos de win-win. Temos que ver qual é a lógica de mercado, que mercado queremos induzir nessas áreas e cruzarmos com as questões sociais. Um exemplo disso é o exitoso projeto de óleo de palma, em escala menor, que o presidente Lula lançou em 2 milhões de hectares no Pará, em 2010. Queremos mostrar que é possível incrementar a produção agrícola, da agroecologia, da agricultura familiar, ter floresta plantada, ter incremento tecnológico e não provocar desmatamentos.

Valor: Isso na Amazônia…

Izabella: No Cerrado ou até na expansão urbana. Um exemplo que acho fascinante foi o que aconteceu no Rio, com a Ingá Mercantil, que faliu na baía de Sepetiba. Cada dia que chovia no Rio de Janeiro a gente achava que aquilo podia romper e contaminar de metais pesados a baía, era um enorme passivo ambiental. Fizemos um arranjo econômico, houve um leilão, aquilo está sendo modernizado. Não tive de abrir novas áreas e recuperei a baía. Quando a gente fala de área degradada não é só rural. Isto é importante, 80% da população do Brasil é urbana. Temos que discutir a qualidade ambiental urbana. Vamos resgatar, com o Ministério das Cidades, a pauta das cidades sustentáveis. Tem muito o que debater, as áreas protegidas nas áreas urbanas, que pouco se fala no Brasil, por exemplo. Não discutimos qual é o processo de expansão das cidades nos diversos biomas. A dinâmica de expansão das cidades na Amazônia não é a mesma da dinâmica de expansão de cidades no Centro-Oeste ou no Sudeste.

Valor: Cidades sustentáveis? O que tem em mente?

Izabella: Temos que trabalhar a mobilidade nas cidades e a poluição do ar associada a isso, e ainda, relacionar com um tema maior, que é o clima. Precisamos dar coerência às políticas ambientais. É importante que tenham coerência e convergência com as políticas de desenvolvimento. Caso contrário, cada um vai para um lado. Há uma pauta riquíssima em saneamento, em resíduos sólidos. O cidadão brasileiro tem que se apropriar da temática ambiental além da fronteira da fiscalização e do licenciamento. Isso tem a ver com a qualidade de vida dele, principalmente de quem vive nas grandes cidades

Valor: O que quer dizer?

Izabella: Tem que compreender que é parte da construção dessas soluções. Fizemos uma pesquisa em 2009 sobre produção e consumo sustentáveis, que mostra o que as pessoas pensam sobre meio ambiente. A reciclagem, todo mundo acha ótimo, é surpreendente. Em 11 capitais, em todos os perfis de renda, todos concordam que a reciclagem é um passo estratégico para o ambiente. E quando se pergunta quais são os atores responsáveis pela reciclagem, 63 % apontam os catadores. Mas não se fala qual é o papel do catador nas grandes cidades brasileiras. Se os tirarmos das ruas, e eles são 800 mil, quanto temos que adicionar de serviço público? Essa é uma pergunta que nunca ninguém faz. Há um grande preconceito social em relação ao catador, as políticas públicas não o enxergam, não se inclui o catador na economia formal, as prefeituras não os remuneram. E isso é um desafio, reconhecer esses ecologistas de plantão. Sem falar que temos pela frente uma grande provocação.

Valor: Uma provocação? Qual?

Izabella: Os grandes eventos que o Brasil vai sediar nesta década. Temos a Rio +20, a Copa, as Olimpíadas. São grandes intervenções que vão falar de temas ambientais. Vamos falar de sustentabilidade olhando para o futuro. Somos um país urbano.

Valor: Mas algum dia vamos enxergar que as estradas da Amazônia são os rios?

Izabella: Temos que enxergar. As culturas locais têm que ser respeitadas. Vamos trabalhar com as populações tradicionais, com os assentados, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Temos um projeto de habitação rural que leva em conta que eu tenho 1 milhão de metros cúbicos de madeira apreendidos. Quero transformar isso em casas de madeira para populações tradicionais e assentados. Vamos ver se é viável e fazer. Temos responsabilidades com esse pessoal, eles cuidam da floresta para a gente e o Ministério do Meio Ambiente não cuida só da fauna e da flora. Assim, a partir do crime ambiental a gente traz cidadania ambiental, na forma de casas dignas para as populações extrativistas. E respeita a sua cultura. Eles não vivem em casas de alvenaria.