sábado, 4 de setembro de 2010

A IDADE DAS TREVAS

A IDADE DAS TREVAS
CAPÍTULO I - A PRECARIZAÇÃO DO ESTADO



A assunção do tucanato ao poder, em 1994, trouxe ao cenário político nacional não apenas FHC, com seu jeito melífluo e convincente de ser. Não. Trouxe um establishment político‑ideológico‑industrial‑corporativo‑colonial que assumiu os postos de comando do Estado com um apetite jamais visto! Como uma horda de nômades mongóis que chegasse ao conforto urbano, os tucanos plugaram suas ventosas sobre as instâncias decisórias e os cargos da República e passaram a sugar, para si e seus correlatos da iniciativa privada, os recursos do Estado com uma sanha que deixaria os velociraptors colonialistas da Era Bush, Wolfovitz à frente, corados de vergonha!

Como justificativa desse assalto ao aparelho do Estado, os tucanos precisavam de um imbricamento ideológico que lhes desse suporte teórico ao desmanche do conceito e das estruturas do Estado! Com Sérgio "Trator" Mota à frente, os ideólogos do tucanato criaram e difundiram à exaustão, via mídia domesticada e partícipe, a tese de que o Estado era ineficiente, perdulário e inepto! Em contraponto, surgiram os príncipes privatistas tucanos, personificados em Ricardo "No Limite da Irresponsabilidade" Sérgio e em Luiz Carlos Mendonça de Barros, afirmando que a salvação da lavoura e do Estado era o fim do próprio Estado! Eram os arautos do Deus Mercado, tatcheristas tupiniquins e temporões, que vinham para acabar com a farra do investimento público e com o papel regulador do Estado! Diziam abertamente que o Estado fazia mal até suas funções de regulador! E que, pasmem, para regular o mercado, nada melhor que o próprio mercado! É! Espantosa e criminosamente simples assim! E aí Deus (não o Senhor, mas o Mercado) criou as agências reguladoras! E viu que era bom! Muito bom! Principalmente para os amigos tucanos que passaram a comprar as empresas estatais a preço de banana na feira! E tome Embratel, Telebrás, Vale do Rio Doce! Com as agências definindo o quinhão de lucro que cada operadora privada deveria ter! E o lucro haveria de ser grande e duradouro, que ninguém era besta de empatar dinheiro sem retorno! Enquanto isso, a escumalha (nós, a massa ignara) era bombardeada pela mídia com as notícias de que, agora sim, a coisa vai! Era o fim da Era Vargas! Era o começo do vintenário tucano na Terra Brasilis, profetizado por Sérgio Mota! Vivia‑se um clima de euforia anti‑estatista nas ruas! Servidores públicos eram execrados aos magotes, nas sessões de auto‑elogio do governo! Bresser Pereira bradava colérico: vamos acabar com a farra no serviço público (nunca se chegou a saber exatamente o tipo da farra)! Enquanto os privatistas avançavam sobre o espólio da Viúva, FHC, com frêmitos de gozo, recebia títulos de doutor honoris causam mundo afora!

Hoje, esse cenário parece impossível! Mas, à época não! Os falcões tucanos (um paradoxo insolúvel) estavam inebriados! Haviam descoberto a pólvora das fontes eternais do Estado! Só que esqueceram de um detalhe pequeno: o povo! Enquanto os formuladores tucanos pregavam na igreja do mercado que a extrema competência da iniciativa privada traria prosperidade e bonança para todos, apenas os diáconos tucanos e seus amigos financistas se davam bem! O povo, após a crise russa, desconfiava que havia caído num grande e bem contado conto‑do‑vigário! Num estelionato ideológico sem precedentes! O golpe no fígado veio com a eleição de 2002, com Lula! O uper cut no queixo veio com a reeleição de 2006!

O povo deu o seu recado claro e direto: ele é o dono do Estado e não aceita intermediários! Um segmento dos financistas e operadores insiste na agenda rejeitada pelo povo, na eleição! São os cabeças‑de‑planilha, expressão cunhada por Luis Nassif para definir os yupizinhos com mestrado em Harvard, que ainda insistem em nos impor sua agenda nefasta! São os rebotalhos daqueles tucanos heróicos que pensavam em reinar 20 anos na cena política brasileira! Graças a Deus, deram com os burros n'água! A sociedade brasileira agradece‑lhes o fracasso! A Octaetéride tucana durou o tamanho exato da quase destruição do Estado! Que sirva de vacina e de contra‑veneno para o futuro!


A IDADE DAS TREVAS
CAPÍTULO II - O MITO DA EFICIÊNCIA DA INICIATIVA PRIVADA

Paralelo à precarização e ao desmonte do Estado, o tucanato, ao assumir o poder em 94, levou a cabo um processo goebbelliano sem precedentes no campo político‑midiático brasileiro. Batiam na tecla de que, ao mesmo tempo que o Estado era ineficiente, gastador e inepto, a iniciativa privada era o éden da competência! Não satisfeitos com a terceirização capenga feita por Collor (alguém se lembra das demissões de servidores públicos vigilantes feitas por Collor, para, em seguida, contratar empresas de vigilância de amigos da Casa da Dinda, a um preço dez vezes maior?), os tucanos avançavam sobre o patrimônio público com um apetite feroz! E justicavam a autofagia com o argumento simplório de que o gigantismo do Estado não dera certo em lugar nenhum do mundo! Portanto, nada mais justo do que desmontar os últimos resquícios da Era Vargas! Só a iniciativa privada resolveria o problema crônico do Brasil! Eram os arautos do Estado mínimo. Temos que acabar com Estado paternalista, bradavam, numa parábola invertida do "ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil"!

E aí então, assistimos ao espetáculo da maior rapinagem do patrimônio público que se tem notícia! Quais Prometeus públicos devorando o próprio rabo, os tucanos partiram para o ataque. Ancorados no dogma da eficiência da iniciativa privada, levou‑se o patrimônio da Viúva à bancarrota! Desnecessário enumerar as empresas "vendidas" nesse período! Enquanto Ricardo "No Limite da Irresponsabilidade" Sérgio andava no fio da navalha entre o esbulho e o crime, o tucano‑mor FHC afirmava, pode fazer, vamos fazer!

Hoje porém, passados tantos anos, restou a pergunta: que poderoso argumento ideológico usou o tucanato? Que palavra mágica proferiam em seus oráculos? Será que, realmente, a iniciativa privada era mesmo o Santo Graal que traria prosperidade e bonança para todos? Ancorados em apenas um exemplo, o da Vale do Rio Doce, podemos, no mínimo, questionar o tucanato: vendida, há pouco mais de uma década, a "impressionantes" US $3,5 bilhões, hoje vale a bagatela de US$ 120 bilhões. Impressionante, não é? Fora as imensas reservas minerais, de resto, imensuráveis!

Sobre a competência da atividade privada, vale rememorar breve histórico no Brasil. Desde a década de 50, temos uma seqüência interessante de algumas empresas públicas: são capitalizadas pelo Estado para, logo em seguida, serem "vendidas" a precinhos camaradas a "competentes" administradores privados! Após um período mais ou menos longo de gestões privadas "competentíssimas", tais empresas, quase todas quebradas, são "reestatizadas" pelo Estado perdulário e inepto, que as capitaliza com dinheiro público e, novamente, as "vende" para os ultra‑competentes gestores privados, num círculo danoso que se repete num mau‑caratismo de assombrar! Ah, tenham dó!

Com os tucanos no poder, esse ciclo foi levado às raias do insuportável! Coroando todo esse processo, criou‑se as jóias da Coroa: as agências reguladoras, encraves privados no seio do Estado, imunes à decisões do próprio Estado! Por esse modelo infame, o próprio presidente da República seria um mero despachante do Mercado! Era a rendição total, a esterilização da vontade popular frente à sanha financista dos dândis do mercado! A pá de cal na baboseira ideológica do Estado mínimo foi a última crise econômico-financeira. Depois que os EUA, a pátria-mãe do capitalismo, estatizou bancos, montadoras e empresas de seguros, a desolação se abateu sobre o tucanato. Tucanos de alta plumagem queimam os neurônios para descobrir um discurso alternativo crível para se apresentarem na eleição de 2010, já que seu discurso desde sempre foi: reformas (nessas reformas, tem sempre um dinheiro público deslizando para os bolsos dos maganões), Estado mínimo, privatização, terceirização, liberdade total aos mercados! O mesmo discurso, a mesma receita que levou a economia mundial à bancarrota em 2008/2009!

Estranhos critérios de eficiência, esses! Lembram muito aquele ditado surrado: aos amigos do Rei, tudo; aos inimigos, os rigores da Lei! Que não nos esqueçamos nunca desses detalhes, submersos na voragem daqueles tempos de ira, mas também de muita safadeza e dinheiro fácil, subtraído do espólio da Viúva! Que a efeméride tucana sirva de marcador para a construção de um país novo! País esse em que, competência e rapinagem sejam conceitos distintos como água e óleo! E que a mão peluda do tucanato jamais volte a misturá‑los!


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CAPÍTULO III - O ITAMARATI TUCANO E A DIPLOMACIA DE PÉS-DESCALÇOS

Prosseguindo com a análise sobre a octaetéride tucana e seus estragos na vida do país, hoje abordaremos a linha diplomática imposta pelo tucanato de 1994 a 2002. Não foi difícil para as aves bicudas dobrarem o Instituto Rio Branco aos seus caprichos de meninos deslumbrados com o restolho da globalização tatcherista. Há, no Itamarati, um ranço americanóide que impera, às vezes explícito, às vezes latente, desde Juraci Magalhães e sua desastrosa frase/fase de alinhamento automático com os EUA.

Na prática como se deu esse alinhamento automático do tucanato à política externa americana? E por que? Qual a gênese desse alinhamento? Qual a razão desse agachamento deslumbrado? Com a assunção de FHC ao poder, guindado pelo Plano Real de Itamar Franco, imediatamente a chancelaria brasileira abandonou o viés terceiro‑mundista que vigorara no período Itamarino. Inflexões diplomáticas rumo à África e países árabes foram abortadas. As tratativas em andamento foram congeladas. Até o incremento das relações comerciais com os países‑baleia, os BRICs, foi relegado a segundo e duvidoso plano. Em plena ascensão como potência econômica, a China foi relegada a uma terceira ordem de importância pela chancelaria tucana. Celso Lafer era um Juraci Magalhães redivivo: o que era bom para os EUA, era melhor ainda para o Brasil. E o que era muito bom para os americanos era a postura subserviente da diplomacia brasileira ao ignorar o PIB potencial crescente dos RICs(Rússia, Índia e China). Aos EUA não interessavam a interação cooperativa entre os BRICs. Era necessária a cizânia; urgia separá‑los para que, separados, não descobrissem o enorme poder de barganha que possuíam e passariam a ter no cenário internacional. Os EUA queriam isolar o Brasil e assim enfraquecer os BRICs. Os diplomatas brasileiros, capitaneados por "Celso Sem‑Sapatos Lafer" fizeram tudo direitinho e transformaram o Itamarati num apêndice, num rabo da Casa Branca.

Apesar desse alinhamento automático, os EUA queriam mais. Muito mais. A ALCA, tratado de livre‑comércio a vigorar em todas as Américas, era, sem tirar nem pôr, uma versão econômica da diplomacia das canhoneiras que conquistara metade do México; diferentemente da batalha de Los Alamos, para a ALCA não haveria limites. Ao contrário da onda expansionista que comeu a metade do México, onde o Rio Grande era o limite, dessa vez a Pax Americana lamberia até as escarpas do Cabo Horn, incorporando a mítica e lendária Ushuaia, a menina dos olhos de San Martin. Felizmente, a ALCA só não prevaleceu porque, os remanescentes dos "Barbudinhos", Celso Amorim à frente, conseguiram equilibrar o jogo e impedir que os "Pés‑Descalços" liderados por Lafer, concluíssem o processo de anexação aos EUA, que a ALCA trazia embutido.

Hoje, passados aqueles dias conturbados, fica o questionamento: por que? O que movia a Inteligentia tucanae para fazer tal haraquiri e entregar a soberania brasileira no altar da globalização? As razões para tal atitude não são simples nem visíveis. Podemos elencar algumas possibilidades, sempre, porém, dentro da larga e nebulosa margem de erro da alma humana. Uma hipótese viável seria a de que os tucanos, geneticamente, foram acometidos da Síndrome de Estocolmo, aquela em que as vítimas se apaixonam pelos seus algozes, absorvendo todos os seus valores. Outra hipótese seria a de que a diplomacia tucana, e de resto todo o tucanato, seria adepta da Teoria do Discurso Introjetado (formulada por estes modestos escribas), na qual o agente oprimido oprime seus iguais para parecer simpático ao opressor (expressão erudita do popular bate‑pau; do puxa‑saco; do baba‑ovo).

De qualquer forma, caiba a definição teórica que couber, a verdade é que há um componente psico‑patogênico importante permeando todo o periodo da diplomacia tucana. Freud explica? Jung elucida? São dúvidas que escapam à percepção limitada deste blog. O certo é que a cena do chanceler Celso Lafer, tirando os sapatos na aduana americana e pondo de joelhos todo um país, permanecerá como uma das cenas mais degradantes de nosso tempo!


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CAPÍTULO IV - DE UM ENSINO TECNICISTA A EDUCAÇÃOZINHA MEIA-BOCA


Dando prosseguimento ao inventário dos malefícios causados ao país pelo tucanato no poder, hoje abordaremos a Educação. Ao assumir o poder central em 1994, os tucanos tinham pronto e formulado um projeto para a Educação: uma extensão do Consenso de Washington para a seara educacional. A espinha dorsal desse plano seria uma política de sucateamento e desmanche das universidades públicas, simultânea à abertura, para as IES privadas, do imenso mercado do acesso massivo dos jovens ao ensino superior.

Para a patuléia, os tucanos tinham um discurso impecável: como o Estado era incompetente para suprir a demanda por novas vagas na universidade, era imperioso abrir a educação superior à competência da Iniciativa Privada(assim mesmo, com maiúsculas). Como quase tudo na octaetéride tucana, vivia‑se um clima de ligeireza nas coisas; os tucanos haviam redescoberto a roda! Breve, o Brasil ostentaria indíces de primeiro mundo na Educação! Agora a coisa vai, profetizava um FHC em frêmitos de gozo! Ao mesmo tempo em que se sangrava as universidades públicas com a míngua de recursos, novas faculdades privadas brotavam aos magotes em cada esquina. Apesar desse otimismo que perpassava todo o ambiente educacional, o governo intervia nas universidades públicas e impedia que reitores independentes assumissem o controle e gorassem o plano tão habilmente urdido (o caso da eleição para a reitoria da UFERJ foi emblemático desse período).

O resultado desastroso dessa política começou a ser visualizado já em 2003, no início do governo Lula e perdura, em certa medida, até hoje. O índice de abandono e evasão, por inadimplência, na rede privada de ensino superior tornou‑se alarmante, beirando, em algumas instituições, o percentual de 50%! Embora o governo petista tenha revertido essa agenda nefasta e resolvido investir na reconstrução da educação pública superior, os frutos amargos do desastre tucano levarão décadas para serem extirpados do quadro da educação brasileira.

Hoje, passados aqueles tempos tenebrosos da expertise tucana na Educação, fica o questionamento: qual estofo ideológico alimentava os grão‑tucanos? Qual suporte teórico amparava Paulo Renato e sua turma nessa sucessão insana de desatinos? Como diria o marqueteiro americano James Carville, é a economia, estúpido! Foi para secundar o neocolonialismo travestido de globalização que o tucanato mercantilizou a educação superior no Brasil! Mas o colonialismo imperialista nunca quis que as imensas massas dos países periféricos obtivessem a escolarização formal! O que mudou? Mudou o conceito de produção na economia capitalista globalizada. Para operar as modernas máquinas do capitalismo integrado, o trabalhador precisava ser escolarizado, seja no Brasil, na China ou na Coréia! Aliás, a revolução educacional coreana era o paradigma preferido dos tucanos de alto coturno! Babavam de gozo ante a eficiência coreana na educação! Era o ideal tucano de uma educação técnica e asséptica, que jamais questionasse a Matrix!

Mas aí entra o pulo‑do‑gato da inteligentia tucanae! O acesso das massas periféricas à escolarização de nível superior teria que ser controlado com rédea curta. Ao mesmo tempo em que permitia o acesso do jovem operário na universidade, o capitalismo monopolista ministrava‑lhe um contra‑veneno: impedia que esse jovem, quando no ensino médio, tivesse acesso a disciplinas que lhe dotassem de um senso mínimo de análise e questionamento! Urgia que a esse jovem fosse negado o acesso a disciplinas humanistas que lhe desviasse da rota dos cabeças‑de‑planilha! Não por acaso, FHC vetou, quando presidente, a adoção obrigatória das disciplinas Sociologia e Filosofia na rede pública de ensino médio! Era necessário que o ensino fundamental e médio desse jovem tivesse um viés claramente tecnicista, para esterilizar qualquer possibilidade de nascimento de uma geração de contestadores, de outsiders! Matava‑se a possibilidade de resistência ao capitalismo colonialista no nascedouro! Simples assim? Espantosa, criminosa e maquiavelicamente simples assim!

Mas afinal, o que deu errado? Por que os grão‑vizires do tucanato foram escorraçados pelo povo em 2002? E por que a sova eleitoral se repetiu em 2006? A resposta não é simplista! Talvez os Paulo Renato Boys tenham subestimado a capacidade dos proletários‑universitários de se escolarizarem, absorverem a informação e a processarem em seu proveito! Esqueceram‑se os çábios tucanos, ancorados em seus títulos acadêmicos, que o pau que dá em Chico pode também dar em Francisco! Olvidaram‑se de Augusto dos Anjos e seus sonetos maravilhos! Não atinaram que a mão da educação que afaga é a mesma que pode apedrejar!


A IDADE DAS TREVAS
CAPÍTULO V - DANIEL DANTAS COMO MODELO DE EMPREENDEDORISMO E DE COMO OS OLIGARCAS TUCANOS SAQUEARAM O ESTADO

Recuando aos tormentosos anos 90, vislumbramos uma agitação febril nos bastidores do tucanato. Vivia-se a panacéia da privatização das empresas estatais e, exatamente como fora ordenado pelo Consenso de Washington, FHC preparava, álacre, o edital para vender as estatais brasileiras na bacia das almas.

Dentre os empresários e proto-empresários que se destacavam na linha auxiliar do projeto tucano, um, em especial, se sobressaía: Daniel Valente Dantas. Cevado nas hostes baianas de Antônio Carlos Magalhães, pós-graduado na Fundação Getúlio Vargas e pós-doutorado pelo MIT, Dantas, logo cedo se revelaria um mago das finanças. Após vender sua cota societária no Banco Icatu e escapar, milagrosamente, do confisco do Plano Collor, Dantas funda o Banco Opportunity e se prepara para a grande jogada de sua vida: o programa de privatização das estatais brasileiras. Fernando Henrique Cardoso havia sido eleito na esteira do Plano Real de Itamar Franco. Corria então o ano da graça de 1994. Conforme prometido ao Consenso de Washington, FHC cumpre o acordado. Andando no limite da irresponsabilidade e da safadeza, FHC entrega as principais empresas estatais para a iniciativa privada, majoritariamente estrangeira. E o que é pior: não bastasse a venda das estatais subavaliadas, o Estado colocava o BNDES para emprestar dinheiro público para a camarilha comprar o patrimônio público! Obviamente que, com um jurinho camarada e carência a perder de vista! Daniel Dantas virou o que é hoje, aí, nesse espaço-tempo nebuloso das ruinosas privatizações tucanas; nesse locus institucionalizado da pilantragem tucana!

Ancorado nos principais fundos de pensão (Previ, Petros, Funcef), que foram obrigados por FHC a, debaixo de vara, aportarem recursos bilionários em seus projetos, Dantas saiu de um cenário de sócio de um tamborete (o Icatu) para o controlador de um grande grupo da telefonia: a Brasil Telecom.

Esse foi o modelo aplicado a outros empresários também. Nenhum com o sucesso de Dantas, porém. Assim, no período negro da primeira tetraetéride Fernandina, assistimos ao mais descarado roubo ao patrimônio nacional; assistimos, impassíveis, a um verdadeiro saque ao Estado, comandado a partir de dentro, do próprio Palácio do Planalto, criando os novos oligarcas que dariam as cartas na vida política e econômica brasileira por vinte anos, segundo vaticinava Sérgio Mota. A cena mais emblemática desse período foi o célebre jantar de Daniel Dantas com FHC, no palácio do Planalto. Segundo testemunhas, nesse jantar, Dantas reclamou com Fernando Henrique da recalcitrante diretoria da Previ, que se recusava a participar da pantomima. No dia seguinte, a diretoria da Previ estava demitida e Dantas conseguiu a parceria que queria.

Não é à toa que FHC considera Daniel Dantas brilhante.

Alberto Bilac de Freitas Nobre
Igor Romanov







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